Condessa. Era assim que a chamavam. O meu nome? Isso não é importante: eu sou só um sopro semi existente, apenas seu fiel escudeiro e companheiro. E estou aqui para ajuda-los a decifrar essa enigmática colega, a qual vocês só conhecem por fora; já eu a conheço por dentro, e com a minha ajuda, talvez vocês a conheçam melhor também. Essa é a sua história.
Minha Condessa nasceu em um reino simples, e vivia em um palácio um tanto solitário. Seus pais raramente compareciam para qualquer evento que fosse. De fato, Condessa só ficou sabendo de sua existência já bem tarde. Antes disso, ela imaginava que sua família restringia-se apenas à sua dama de companhia, a velha Senhora, e ao bobo-da-corte, Faísca (Condessa o batizou assim, pois ele era, literalmente, sua única “faísca” de alegria no palácio).
Fora do palácio, Condessa não era menos solitária. Pelo contrário: o vilarejo que ela frequentava a hostilizava, pois a consideravam uma Condessa bastarda, sem família. Aliás, ela preferiu chamar-se “Condessa”, ao invés de “Princesa” por isso: ela não se considerava igual às outras. Não era rosa, meiga e delicada como elas, a Senhora nunca a ensinou a ser assim. E Condessa a agradece por isso. Afinal, essa parte de sua criação é hoje a característica mais importante de sua personalidade.
No entanto, isso não fez Condessa menos solitária na infância. Ela sofria muita rejeição, e, às vezes, até agressões de seus colegas no vilarejo. Ninguém gostava da Condessa bastarda, todos aceitavam apenas princesas acompanhadas do rei e da rainha. Por isso, a Condessa não falava muito. Era mais com Faísca que ela conversava, embora o pobre vassalo não a compreendesse (eles falavam línguas diferentes). A Senhora, por ter de manter o palácio em ordem, também não tinha tanto tempo assim para gastar com ela.
Isso tudo contribuiu para que a Condessa se tornasse introspectiva e solitária. Seu melhor amigo, imaginem só, fora um bobo-da-corte! Com isso, ela acabou se tornando uma grande amante de bobos-da-corte, e ainda acha que eles são melhores que muitos seres humanos. Sua solidão também fez com que ela aprendesse a não sentir falta de companhia, e as agressões sofridas durante a infância nos antigos vilarejos fizeram com que ela tivesse de esperar até os vinte e cinco anos até se arriscar a pisar em um vilarejo novamente. A Senhora, como era analfabeta, nunca ensinou Condessa a ler. Só que o tédio de uma vida cuja única companhia é a própria solidão fazia Condessa sentir falta de outras histórias. Então, na falta das já prontas para ler, ela mesma as escrevia. Com o tempo, Condessa tomou tanto gosto por escrever que os amigos de hoje já associam esse ato à sua personalidade. E, creio eu, não ficarão surpresos com o tamanho desse texto.
Bem, essa foi uma apresentação superficial. Pedras foram jogadas em seu lago e eu li as ondas para vocês. Se quiserem ver como ficou o fundo do lago, precisarão mergulhar nele...
Você se arrisca?
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